quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

O Estado falha na proteção aos animais

Segundo Nina Rosa Jacob, fundadora e diretora do INSTITUTO NINA ROSA de proteção aos animais, o Estado falha na proteção aos animais.

Veja a entrevista, na íntegra, ao Observatório Eco de Direito Ambiental, também no site http://www.observatorioeco.com.br/o-estado-falha-na-protecao-dos-animais-diz-nina-rosa/.


Estado falha na proteção aos animais. “A maior parte do trabalho pelos animais de atribuição do Estado é realizada por organizações de defesa animal e por protetores independentes, sem nenhuma ajuda de custo”, de acordo com Nina Rosa Jacob, uma das mais importantes ativistas em defesa dos direitos dos animais no país, fundadora e presidente do instituto, que leva seu nome.

Dedicada a esta árdua tarefa em defesa dos direitos dos animais, Nina Rosa avalia como “inacreditável” o que os protetores conseguem fazer sozinhos, apenas com a ajuda de pessoas sensíveis à causa.

Para ela, seria justo o Estado ressarcir aos protetores todos os gastos que vêm tendo, há anos, para fazer esse trabalho de responsabilidade do governo. A ativista acrescenta que são os protetores que vão para a internet pedir justiça para os crimes – muitas vezes hediondos - e sem punição contra os animais.

“Talvez a falha mais grave do Estado seja a falta do exemplo de valores positivos e da educação de seu povo”, na opinião de Nina Rosa. A questão dos direitos dos animais é um tema que precisa evoluir no Brasil. Ela advoga a necessidade de “punição mais severa” para os crimes contra os animais, a criação de “delegacias especializadas, promotorias especializadas em atendimento aos crimes contra os animais”. Porém, mesmo a punição, quando não associada à educação, não resolve, pondera a defensora.

O Instituto Nina Rosa surgiu em 2000 e acredita que a educação e o exemplo têm poder de transformar e incentivar a responsabilidade pela natureza, pelo reino animal e pela própria humanidade. Por isso realiza projetos e produz material educativo focados na Educação em Valores, para a formação de uma sociedade mais justa e pacífica.

Veja a entrevista que Nina Rosa Jacob concede ao Observatório Eco, com exclusividade.


Observatório Eco: A freqüência de prática de maus-tratos em animais no Estado de São Paulo, por exemplo, é constante. Na sua avaliação, os pais falham na educação dos filhos quando o tema é respeito aos animais? Se a falha já começa na família, como a sociedade depois pode corrigir essa distorção de comportamento?

Nina Rosa Jacob: A maioria dos pais falha no exemplo de compaixão pelos animais, em geral porque também não tiveram esse exemplo. Acreditamos que nunca é tarde para se educar em valores positivos. Não podemos mudar o passado, mas podemos interromper um ciclo vicioso de violência ou de negligência com relação à vida.

As crianças de hoje, apoiadas em seus sentimentos de compaixão e solidariedade podem desenvolver esses sentimentos, se incentivadas, e irradiá-los no entorno.

Ao sermos exemplos positivos de respeito a nossos irmãos co-habitantes deste planeta, sejam eles animais humanos, não humanos, vegetais ou minerais, estaremos fortalecendo essa corrente que, apesar do caos aparente, tem a coragem de agir diferente, de fazer o bem.


Observatório Eco: O Instituto Nina Rosa (INR) se preocupa com a edição de campanhas educativas em prol da defesa dos animais, o que esse engajamento revela ao longo do tempo? É muito difícil sensibilizar as pessoas por um comportamento mais digno em favor dos animais?

Nina Rosa Jacob: O INR respeita aqueles que pensam diferente dele, mas não gasta energia em tentar convencê-los. Nosso trabalho é informar e sensibilizar. As pessoas que se transformam são aquelas que já estavam almejando, internamente, essa mudança.

Revelamos, por meio de vídeos, livros, palestras e cursos, como é a realidade oculta por trás de produtos e serviços que exploram animais. Para uma boa parte das pessoas – aquelas que não querem praticar o mal, mas que o praticavam sem saber, só o fato de conhecerem a realidade já os transforma.

Observatório Eco: Atualmente, o pet, aqui seria o animal de estimação, é visto como uma mercadoria desta indústria de pets shops, ou realmente revela uma preocupação do homem em cuidar melhor dos bichinhos de estimação? Muitos criticam essa tendência de humanização desses animais de estimação. De que forma a senhora avalia essa situação?

Nina Rosa Jacob: Em a minha opinião os animais merecem o mesmo respeito e cuidados que os humanos. O que não quer dizer usar botinhas, perfume, coleiras de pedras preciosas, nem levá-los a locais inadequados e estressantes para eles.

Falamos de atenção, cuidados médicos-veterinários, alimentação saudável, brincadeiras pacíficas, conforto, liberdade com educação, passeios diários para socialização e exercício físico, enfim: amor.

No chamado mercado pet, o bem-estar do animal não é prioridade, mas sim o lucro. É necessário ter muito discernimento, procurar informação e saber quais produtos desse mercado apoiar, para não patrocinar – mesmo sem querer – crueldade de testes com animais.

Somos contrários à comercialização de animais de qualquer espécie. Esse comércio é um grande fator de coisificação e de maus-tratos, pois pessoas menos informadas acreditam que comprei, é meu e faço dele o que quiser“.

Indicamos a adoção, processo simples e responsável oferecido por protetores independentes ou organizações de defesa animal. Em São Paulo temos um Centro de Adoção de Animais, onde o interessado na adoção pode interagir com os animais, livres, sem gaiolas, para conhecer e melhor escolher o novo membro da família.

Observatório Eco: Em sua opinião o Estado falha por omissão quando o tema é a vida digna dos animais?

Nina Rosa Jacob: Sim, o Estado falha. A maior parte do trabalho pelos animais de atribuição do Estado é realizada por organizações de defesa animal e por protetores independentes, sem nenhuma ajuda de custo.

Os protetores, por amarem os animais e respeitarem seu direito à vida digna, desdobram-se fazendo praticamente o impossível para resgatar animais em situação de risco, negligência, abandono, maus-tratos e oferecer atendimento médico-veterinário, conseguir lares transitórios e/ou hotéis enquanto trabalham sua adoção.

É inacreditável o que os protetores conseguem fazer sozinhos, apenas com a ajuda de pessoas sensíveis à causa. Seria justo o Estado ressarcir aos protetores todos os gastos que vêm tendo, há anos, para fazer o trabalho dele. E além de tudo são os protetores que vão para a internet pedir justiça para os crimes – muitas vezes hediondos - (e sem punição) contra os animais.

Talvez a falha mais grave do Estado seja a falta do exemplo de valores positivos e da educação de seu povo.

Observatório Eco: Uma lei mais rigorosa na punição da prática dos maus tratos seria uma forma de minimizar essa ação? Ou a maior divulgação das denúncias de maus-tratos seria mais importante? Ou a sociedade cobrar do poder Judiciário mais a aplicação da lei nos casos de crimes de maus-tratos?

Nina Rosa Jacob: As leis de proteção aos animais são cada vez mais conhecidas, porém ainda com penalidades excessivamente brandas, e o que é pior, falta punição. É uma questão de cultura e de educação.

Há que haver em todo o Brasil punição mais severa, delegacias especializadas, promotorias especializadas em atendimento aos crimes contra os animais. Porém, mesmo a punição, quando não associada à educação, não resolve.Precisamos educar nosso povo. E o poder público deve ser um melhor exemplo de valores éticos.

Por acreditar no poder da educação em valores é que desenvolvemos o curso de capacitação para educadores.

Percebemos que cada vez mais pessoas se importam com os animais e que os crimes contra eles são mais freqüentemente revelados e denunciados.

Se antes existia quase sempre omissão da parte de testemunhas, a tendência agora é outra. A mídia tem mostrado essa nova e desejável postura. Chega de impunidade, não é? E como os animais não falam nossa língua (e nem nós a deles) se não nós, humanos sensíveis, a compreendê-los, protegê-los e falarmos por eles, quem? Denunciar maus-tratos a animais é uma forma de valorizar esses irmãos. Há uma frase de Elie Wiesel que expõe muito bem a situação da omissão: “Neutralidade ajuda o opressor, nunca a vítima. Silêncio encoraja o torturador, nunca o torturado”.

Observatório Eco: Muitos defendem que seria melhor a esterilização de gatos, cachorros, para evitar o abandono deles, mas pensando em longo prazo, essa prática inclusive defendida por defensores dos animais seria a mais adequada? A redução destes animais continuamente não pode ser desastrosa no futuro?

Nina Rosa Jacob: A esterilização ou castração de felinos e caninos é mais do que importante, é imprescindível para prevenir maus-tratos, abandono e todo tipo de crueldade.

Os animais, diferentemente da maioria dos humanos, cruzam na época do cio por instinto de procriação, e não para fazer sexo. A castração traz vários benefícios para machos e fêmeas e é um importante quesito da guarda responsável. Deve ser realizada, se possível, antes da puberdade.

Atualmente, há técnicas avançadas, menos invasivas, para esterilização das fêmeas, as vezes chamada de técnica do gancho, e da opção de esterilização química para os machos.

Os tutores ou guardiães responsáveis devem procurar sua clínica veterinária de confiança para contratar a esterilização de seus cães e gatos. A prefeitura de São Paulo oferece esse serviço gratuitamente, mediante cadastro dos animais, no Centro de Controle de Zoonoses.

Quanto à pergunta sobre a redução desses animais, respondo que estatísticas afirmam que é necessário castrar mais de 70% de uma população para que haja algum tipo de controle ou diminuição da superpopulação, que é um problema também de saúde pública.

Para se ter uma idéia, uma cadela não castrada e seus descendentes não castrados, podem gerar, em 6 anos, 64.000 animais. O número da progressão para uma gata, que pode gerar várias ninhadas por ano, é de 420.000 animais.

Portanto, por mais campanhas de castração que existam, ainda há superpopulação, ninhadas indesejadas e abandonadas, quando não afogadas ou assassinadas de formas ainda piores. Lembramos que a castração dos machos é de igual importância, pois um só macho pode emprenhar várias fêmeas. Sim! A castração é importante para evitar maus-tratos e abandono. Não só de animais sem raça definida, como também dos de raça definida, que estão pelas ruas, e nos abrigos municipais, tristes e indesejados.

Observatório Eco: Por todo esse quadro difícil na defesa dos animais, o que te anima e te incentiva a continuar nessa missão?

Nina Rosa Jacob: Nosso incentivo é o amor pelos animais, a certeza de que é melhor fazer alguma coisa – mesmo que pouco – do que não fazer nada, e a fé de que atitudes positivas irradiam grande poder transformador.

Informamos àqueles que quiserem assistir aos nossos filmes, que eles estão disponíveis para baixar gratuitamente em nosso site.

Também no site encontrarão respostas às questões mais freqüentes relativas à defesa animal, por exemplo, o que fazer ao encontrar animal em situação de risco, e ainda uma página de indicação de serviços sugerindo profissionais que trabalham com preços reduzidos.


Veja mais nos sites:

www.institutoninarosa.com

http://www.naturezaemforma.org.br/

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